Concurso de Redação “Dulce Guimarães”

Sobre o Concurso

Visando reconhecer a escola como um espaço de criação, a Secretaria de Cultura, pela Divisão de Cultura de Capão Bonito propõe o Concurso de redação para alunos de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental das Escolas da Rede Pública Municipal, que consiste na seleção de redações inéditas, com o tema “Capão Bonito: sua história e suas personalidades”.

Objetivos

Estimular a produção escrita dos alunos da Rede;
Enriquecer o projeto pedagógico das escolas;
Estimular a reflexão sobre o tema proposto;
Diversificar a prática pedagógica, incentivando à leitura e à escrita.

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DOCUMENTOS
*Toda a pesquisa relativa a vida e obra de Dulce Guimarães, garimpo dos Jornais e Textos, foram realizados por Carlos Eduardo Souza Queiroz.
APRESENTAÇÃO

“[…] a destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas é um dos fenômenos mais lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo sem qualquer relação com o passado público em que vivem.”

Eric Hobsbawm

Arraial Velho, Freguesia Velha, Paranapanema, Nossa Senhora da Conceição de Capão Bonito. Às margens do Rio das Almas um povoado desenvolveu-se e, em migração, foi prosperando. Seu capão de mato em coração foi receptivo aos tropeiros de longínquas origens, e gameleiros acolhedores, gradativa e fortemente estabeleceram as profundas raízes dessa comunidade. Nesta história da formação de Capão Bonito, sólidas bases culturais surgiram e neste grande caldeirão – ou em nossa Gamela cultural – é imprescindível conta-la e reconta-la com a presença daqueles que foram agregadores dos nossos valores. Uma dessas notáveis pessoas é, sem sombra de dúvida, Dulce Guimarães de Carvalho, professora, diretora, poeta, contista, cronista e jornalista, que aqui viveu entre 1966 e 1988.

Para tanto, iniciaremos com uma breve discussão sobre a importância da memória para a cidade a partir dos artigos de Giseli Rodrigues e Neli Machado e de Antonio Candido:

Entre os diversos aspectos da identidade contemporânea, é a memória o mecanismo principal para a construção da identidade social e local. A identidade se constrói em um indivíduo a partir de visões do mundo, ideologias políticas e experiências históricas […]”[1]

Se a “identidade se constrói em um indivíduo a partir de visões de mundo, ideologias políticas e experiências históricas”, cabe a quem detém o conhecimento das histórias do passado, das personalidades, das obras de arte etc, enfim, tudo aquilo que constitui parte da Memória, dar continuidade, passar adiante todo o conhecimento “para evitar o esquecimento […] do passado.”[2]

Neste sentido, nós como educadores, podemos contribuir com o “não-esquecimento”, lutando para que a memória se mantenha ativa e que nossa cidade não se torne

“uma cidade largada às moscas, onde qualquer um vem e pega o que tiver de melhor e vai embora, onde os cidadãos vivem individualmente, sem se preocupar com o social, uma cidade estagnada econômica e socialmente, violenta e pobre.”[3]

Segundo Candido, a Literatura é “fator indispensável de humanização”[4], sendo assim, podemos traçar um paralelo com as ideias expressas por Rodrigues e Machado a fim de demonstrar a importância da Literatura como instrumento de “construção da identidade social”.

Por humanização, levaremos em conta, o conceito de Candido[5].

Portanto essa noção de humanização que a literatura desenvolve em cada indivíduo é responsável, também, pela preocupação da preservação da memória. Podendo construir, no meio em que vive, afinidade com seu passado histórico.

***

A citação de Hobsbawm, usada aqui como epígrafe, dá o tom desta primeira iniciativa do Resgate e Valoração da produção literária de Dulce Guimarães de Carvalho, reforçando a importância de haver um olhar atento para esta que, talvez, seja a primeira mulher representante da Literatura capão-bonitense.

Tentaremos, com uma nota biográfica e uma pequena amostra de seus escritos, mostrar a relevância de Dulce Guimarães no campo cultural de Capão Bonito. Para isso foi-nos permitido o acesso a seu espólio, através de sua herdeira, a sua filha Ana Karina Guimarães  Carvalho, com a pretensão de deixar os textos acessíveis à leitura e estudo.

Consideramos muito válida a defesa do Direito à Literatura de Antonio Candido, sobretudo quando diz que “uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável” e com isso, consideramos (e tentaremos assegurar) um direito de todo capão-bonitense, nascido aqui ou não, o acesso à literatura produzida em Capão Bonito. Começando pela produção de Dulce Guimarães.

Embora seja uma iniciativa importante, ressaltamos que é, ainda, um primeiro passo para a divulgação da obra de Dulce Guimarães.

Pretendemos, também, que seja um grande passo para que Capão Bonito seja incluída no roteiro literário do interior paulista.

Carlos Eduardo Souza Queiroz


[1] RODRIGUES, Giseli e MACHADO, Neli. 2010, p. 23.

[2] Ibdem. p. 25

[3] Ibdem

[4] CANDIDO, Antonio. Direito à Literatura In: Vários Escritos. 6º ed. Rio de Janeiro, 2017. p. 175

[5] Cf. “o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetras nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor.” pg. 180.