Capão Bonito seguirá “Agenda Educacional”
Governo Municipal quer maior equilíbrio entre investimentos em educação e desempenho dos alunos nos próximos dois anos
Notícia publicada em 22 de janeiro de 2019
EDUCAÇÃO DE QUALIDADE – A modesta cidade de Teresina, capital do Piauí, alcançou um feito na área de educação de causar inveja às maiores metrópoles do país.
O município, em que vivem 844.000 pessoas, tem a quinta menor renda por habitante entre as capitais brasileiras. E, com um orçamento apertado, só consegue gastar com cada aluno da rede pública de ensino 6.600 reais por ano, perto de 70% do que é desembolsado, em média, pelas capitais brasileiras. Mesmo diante da restrição financeira, Teresina consegue atender em escolas municipais 64% das crianças das séries iniciais do ensino fundamental, até o 5o ano, o dobro do índice de cidades mais ricas, como São Paulo.
O restante está na rede privada. E não é só isso: dados mais recentes, divulgados pelo governo federal, mostram que Teresina é a capital brasileira em que os alunos do ensino fundamental têm o melhor aprendizado de português e matemática. Ou seja, a capital piauiense não tem prezado apenas o acesso, mas também a qualidade do ensino.
A rede municipal de Teresina, com 152 escolas do fundamental, vem se reformulando desde a década de 90.
Desde 2014, um sistema de avaliação mede o desempenho dos alunos a cada bimestre, com aulas de reforço para os estudantes e também para os professores, quando necessário.
Em sala, o foco é aprender bem o básico, embora a capital esteja criando o projeto Escola do Futuro, para desenvolvimento das habilidades não cognitivas das crianças.
As escolas que avançam mais em avaliações anuais recebem recursos municipais adicionais — 26% do orçamento da cidade é destinado à educação pública. “Não há influência política: são decisões tomadas por técnicos”, diz Firmino Filho, prefeito de Teresina. “É preciso ter planejamento e foco em resultado, o que nem sempre é muito charmoso de contar”.
Para o secretário de Educação, Cultura, Esporte e Turismo de Capão Bonito – Wagner Antonio Santos, Terezinha é um bom exemplo a ser seguido.
“Os gastos do governo federal com a educação, embora tenham caído recentemente devido à crise fiscal, quase dobraram em termos reais nos últimos dez anos. Mesmo assim, os recursos ainda estão aquém dos montantes praticados em países que conseguiram dar uma arrancada no aprendizado.
A Finlândia, sempre vista como referência na área de educação, investe cerca de 100.000 dólares em um aluno desde os 6 até os 15 anos de idade. A Coreia, outro exemplo normalmente citado, desembolsa 80.000 dólares. No Brasil, porém, são gastos 40.000 dólares por aluno”, destaca Wagner Santos.
O desempenho dos alunos brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) — realizado pela OCDE, organização que reúne as nações mais ricas — caiu quatro pontos em ciências, cinco em leitura e nove em matemática de 2009 a 2015, ano dos últimos dados divulgados.
“Os melhores alunos brasileiros estão no nível de aprendizado dos piores do Vietnã, país que tem um terço da nossa renda”, diz Priscila Cruz, presidente da Todos pela Educação, ONG que batalha pela causa.
Base Comum Curricular – Existem alguns fatores que tornam a discussão sobre a qualidade da educação brasileira vital neste momento.
Em 2017, o país homologou uma base comum curricular, que vai exigir que todas as escolas infantis e fundamentais adaptem os programas educacionais a um conteúdo nacional nos próximos dois anos.
Hoje, um quinto dos professores diz não ter material adequado para dar aulas, um problema que a base se propõe a ajudar a resolver.
“A Constituição Federal prevê a vigência do Fundeb, fundo de custeio e desenvolvimento da educação básica, até 2020. Responsável por 60% dos recursos da educação básica no país, e pela totalidade do dinheiro para esse nível de ensino em 1 800 municípios, o Fundeb precisaria ser prolongado e a forma de distribuição do dinheiro rediscutida”, acrescenta o secretário Wagner Santos.
Com o novo presidente da República, pode vir um novo programa para a área. São chances de o Brasil virar o jogo na educação. Pode parecer que quatro anos seja um prazo curto para tudo isso, mas não é bem assim.
Vale copiar – A cidade tocantinense de Palmas, que está em segundo lugar entre as capitais na qualidade da educação, foi buscar inspiração fora do país. Em 2013, a prefeitura de Carlos Amastha (PSB) investiu no treinamento de 120 professores e gestores da Secretaria de Educação.
Boa parte desse pessoal viajou ao exterior para ver de perto escolas públicas reconhecidas pela excelência.
Os responsáveis pelas creches foram conhecer o modelo de educação infantil da cidade italiana de Reggio Emilia, tido como o melhor do mundo.
E professores do ensino fundamental visitaram escolas em Singapura, onde os jovens de 15 anos tiraram as melhores notas nos últimos exames do Pisa.
As duas viagens deixaram marcas nas escolas de Palmas. Nas paredes das creches abertas de lá para cá, armários com fantasias de boneca e pirata dividem espaço com livros para colorir e bolas com as letras do alfabeto. Desde a mais tenra idade, os alunos ajudam professores e serventes a limpar a bagunça das atividades.
A ideia é alfabetizar e dar uma noção de responsabilidade aos pequenos de maneira lúdica, como ocorre na cidade italiana. De Singapura, veio uma receita para manter a obediência em sala de aula de jovens a partir dos 12 anos, que lembra uma rotina militar. A jornada de estudos começa com uma saudação à bandeira.
Além da obediência, os educadores da cidade trouxeram um modelo de aprendizado “mão na massa”, em que os alunos aprendem conceitos teóricos em laboratórios que reproduzem o dia a dia de certas profissões.
Não é raro ver jovens estudarem operações matemáticas enquanto calculam a quantia de ingredientes de um bolo — algumas escolas têm cozinhas industriais para esse tipo de experimento. A receita melhorou o resultado de Palmas no Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
Desde 2013, a pontuação média dos alunos da cidade nos anos iniciais do ensino fundamental passou de 5,8 para 6,6. Nos finais, de 4,9 para 5,8. Para ter uma ideia das conquistas, o patamar atual está acima do que o Ministério da Educação esperava que as escolas da capital tocantinense atingissem em 2021, de 5,5 e 5, respectivamente. “A receita é buscar referências do que funciona e dar autonomia aos gestores para aplicar as medidas da maneira que convém em cada escola”, diz o pedagogo Danilo Melo, secretário de Educação de Palmas.
Sem bala de prata e salvador da pátria – Os educadores costumam dizer que não há bala de prata nem salvador da pátria para a educação.
Para melhorar, é preciso planejar. Uma proposta da Todos pela Educação, construída para ser apresentada aos candidatos à Presidência da República, mostra sete medidas para atacar a crise de aprendizagem no país. Entre elas está remodelar a carreira do professor, com cursos iniciais mais atraentes, uma vez que só 3% dos jovens no Brasil querem seguir essa profissão, e com uma formação contínua.
O programa passa também pelo desenvolvimento da primeira infância, que, se bem realizado, trará resultados para todas as fases de ensino posteriores.
Outra medida é promover a alfabetização: hoje, 55% das crianças brasileiras que estão no 3º ano do ensino fundamental, em geral com 8 ou 9 anos, não sabem ler nem escrever adequadamente.
Com isso, o aluno vai passando de ano sem o aprendizado necessário, a ponto de, no 3º ano do ensino médio, só 7% dos alunos terem conhecimento suficiente de matemática.
Como meta, a Todos pela Educação diz que a meta poderia elevar para 100% a alfabetização das crianças de 8 anos e elevar para 70% a fatia de alunos com aprendizado considerado adequado à respectiva série até 2022.
“Diante de análises importantes como o Todos pela Educação é fundamental que tenhamos uma Agenda Educacional para os próximos dois anos. Com a implantação do Escola Integral neste ano e outras ações e inovações simultâneas a meta do prefeito Marco Citadini é garantir um equilíbrio maior entre os investimentos no setor e qualidade educacional”, frisa o secretário Wagner Santos.