Dói pra burro: Esta mulher põe o dedo na ferida
Notícia publicada em 28 de agosto de 2018
Lourenço Diaféria
O assunto de hoje é chinfrin.
Peço desculpas antecipadas.
Começa com uma notícia de jornal: “O secretário-geral do Ministério da Educação disse que mais da metade dos professores do ensino de primeiro grau no Brasil não tem qualificação profissional.”
Quer dizer: mais da metade dos professores do primeiro grau (antigo primário e ginásio) não tem condições de ensinar.
Claro que a gravidade do problema não é uniforme em todo o país, variando de região para região. Mas é uma afirmação assustadora.
Agora vem a segunda parte: a carta recebida de uma professora e diretora de colégio estadual, localizado no interior paulista.
A carta é um desabafo. Vou transcrever trechos:
“Você certamente ouviu falar do Concurso de Ingresso ao Magistério de 1.o grau, recentemente aberto pela Secretaria da Educação de São Paulo. Pois bem, qualquer concurso que se promova, em qualquer Secretaria do Estado, de imediato, dia seguinte, aparecem os famigerados, fajutos cursinhos preparatórios para as provas. Se as arapucas conseguem sobreviver é porque existem otários que caem nelas. Até aí, vá lá. Mas eu, com quinze anos de magistério, diretora efetiva de um colégio estadual, assistindo e orientando professores há tanto tempo, permito-me opinar que não considero o professor um otário. No entanto, abra os jornais e verá que já estão aparecendo os cursinhos preparatórios para o Concurso de Ingresso ao Magistério de 1.o grau.
“Isso para mim é um absurdo, e vou explicar porque.
“Um dos professores de minha escola procurou informar-se: o curso custa 700 cruzeiros por mês – cerca de 3 meses são 2.100 cruzeiros. Se o candidato não for aprovado, fica por isso mesmo; mas, se for aprovdo, paga mais 2.500 cruzeiros.
“Então minha denúncia é a seguinte: – eu considero que isso não é só um assalto a mão armada: é principalmente um insulto à dignidade do magistério, uma afronta à Educação. A simples divulgação desses cursinhos pela imprensa já é uma imoralidade. Os professores concursantes são profissionais graduados por faculdades (não entremos aqui no mérito delas), oficiais ou isoladas, autorizadas a graduar seus alunos, através de decretos governamentais. O edital do concurso previu as disciplinas, os temas e a bibliografia.
“De que mais precisa um professor?
“O resto é pouca vergonha. O resto é admitir implicitamente que os professores não têm gabarito para estudar sozinhos, ou que as faculdades não dão condições mínimas aos universitários para ser aprovados em concursos.
“Ou, ainda pior, que os professores não têm preparo profissional para ensinar, já que nem saem pesquisar sozinhos – mas são professores que todos os nossos filhos, o que abre um rombo na filosofia da Educação.
“Sou contra arapucas, em geral, mas essa, repito, é o fim do mundo. E somos todos coniventes, porque todos somos omissos.”
Ponto final.
Só um lembrete? Enquanto houver professores com a consciência e a coragem dessa mulher, existirá esperança de que as coisas mudem.
E nem todos estamos conformados em ser omissos e coniventes.