Morena Flor…

Notícia publicada em 28 de agosto de 2018

                                               Dulce Guimarães

Por Alice Elias Daniel Olivati

Era o ano de 1966. Eu, jovem estudante de Desenho e Plástica da FAAP – São Paulo, tranquei matrícula na 2.a série e voltei a Capão Bonito para substituir o Prof. Laudelino de Lima Rolim, que deixava as aulas de Desenho do então Ginásio Estadual Dr. Raul Venturelli. Que responsabilidade a minha! Quem conheceu o Prof. Laudelino, sabe. Em um mesmo prédio, funcionavam o Ginásio e a Escola Normal Municipal D. Leonor Mendes de Barros. Ao lado, o Grupo Escolar Padre Arlindo Vieira. Lecionavam no Ginásio: o Prof. José Matarazzo, o Prof. Genésio Ginez, o Prof. Herval, a Profa. Dulce Isabel Mendes, e outros. Nesse mesmo ano, ela chegou – Dulce Guimarães – ela e seu esposo, o saudoso Clóvis Lacerda de Carvalho, provindos de Sorocaba. Era diretora, a Profa. Nair M. Válio Vaz e depois a Profa. Álcida Nogueira de Lima. Dulce foi diretora da Escola Normal e lecionava Português no Ginásio. Clóvis lecionava História. Logo, o então prefeito, Abib Elias Daniel trouxe para Capão Bonito o 2.o grau. Foram instaladas as áreas de: Letras, Ciências Sociais e Ciências Exatas. Passou a chamar-se Colégio Estadual Dr. Raul Venturelli, daí a sigla CERV. Depois chegaram os professores: Estanislau Maria de Freitas (Português), Paulo Bugni (Matemática), Fernando Blóes (Psicologia), José Roberto de Jesus – recém formado em Química, Alceu Nunes (Educ. Física), Edson Góes (Física), Maria Celeste Vaz (Inglês), José Maria (Ciências), entre outros. O Corpo  Docente nessa época, balançava a delegacia de Itapeva.

Que saudade! Éramos tão unidos! Unidos e fortes. Cada um dinamizava sua área mais e mais. Fazíamos e acontecíamos. Além das aulas, criávamos departamentos pedagógicos especiais. Dulce era quem coordenava todos os planejamentos escolares, Fernando, a Orientação Educacional e eu a Avaliação. Tudo em horário extra e sem ganhar por isso. Mas dava prazer, nos realizávamos, além de contribuir para a melhoria do ensino. Depois fiz a Faculdade de Letras, ficando efetiva em Português e Literatura. Dulce prestou o concurso para diretor de escola e para felicidade nossa, escolhemos a mesma escola em que estávamos, a escola que tanto amávamos. Foi aí que “a flor furou o asfalto” (como no verso de Carlos Drummond de Andrade). Pela redistribuição da rede física, o Grupo Escolar Padre Arlindo Vieira integrou-se ao Colégio, formando a EEPSG Dr. Raul Venturelli. E a escola foi crescendo. E todas as salas de ambos os prédios formaram uma só escola. Uniram-se os corpos docentes, as secretarias, e o pátio comum obrigava agora um grande n.º de alunos. Há pouco tempo integrou-se também ao Colégio, a Escola Normal Municipal. Hoje, o CERV é uma das maiores escolas da região.

E a pequena flor – Dulce – foi grande. Reinou soberana ao lado dos professores e alunos por todos estes anos. Desde o início mostrou-se excelente administradora. Sabia do último botão de rosa que desabrochou no jardim da escola, da limpeza, da estética interna e externa, dos trab da secret., os mais complicados problemas administrativos e pedagógicos. Era respeitada tanto na Delegacia de Ensino de Itapeva como na de Itapetininga. À frente de Dulce, tremeram muitos supervisores e delegados de ensino. Ora brava, ora sorrindo, ora diretora, ora professora, ora mãe, ora irmã, ora amiga… Dulce era assim… era tudo. Era luz, era impulso, era força, era apoio. Quando ausente, a escola funcionava sozinha. Cada elemento, imbuído em suas funções. E se ausência é realmente presença multiplicada, haveremos de permanecer unidos e sempre lembrar a sua filosofia de educação, a sua conduta moral e humana que aprendemos a conhecer tão bem.

Se fosse para escrever sobre todas as realizações da Dulce e do Colégio, ao longo de todos esses anos, daria um livro de memórias.

Paralelamente às funções de diretor de escola, foi também jornalista e poeta: Há dois livros da Shogun Arte com trabalhos seus. Poemas e Contos. Quem não se lembra do II FIMA, quando ela ganhou o 1.o lugar com a letra de MORENA FLOR musicada por Aziz, interpretada por Contieri e arranjo do maestro Chiquinho (da Sambrasil de Itu)… Depois vieram outras composições e outros prêmios, mas essa foi a que mais marcou.

E para homenageá-la, em nome da família CERV (de todos os tempos), transcrevo um de seus poemas:

CANTO

Quero dizer-te quanto estou [feliz

por tudo, por nada, porque és [meu,

não importa esta saudade,

[esta ansiedade,

se também traz felicidade.

Quisera reter-te

no frágil momento de nós [dois,

em que a vida escapa [implacável

em que um momento não [volta depois.

Vivo a angústia e a [impotência do eterno!

Sou feliz demais

Para morrer um pouco

a cada instante em que não [somos mais.

Dulce Guimarães

A Tribuna Sudoeste – 06/08/88

1370